[Formação] A Semana Santa

“A Sagrada Escritura, confirmada pela experiência dos séculos, ensina à família humana que o progresso, grande bem para o homem, traz também consigo uma enorme tentação. De fato, quando a hierarquia de valores é alterada e o bem e o mal se misturam, os indivíduos e os grupos consideram somente seus próprios interesses e não o dos outros. Por esse motivo, o mundo deixa de ser o lugar da verdadeira fraternidade, enquanto o aumento do poder da humanidade ameaça destruir o próprio gênero humano. Se alguém pergunta como pode ser vencida essa miserável situação, os cristãos afirmam que todas as atividades humanas,
semanasanta3quotidianamente postas em perigo pelo orgulho do homem e o amor desordenado de si mesmo, precisam ser purificadas e levadas à perfeição por meio da cruz e ressurreição de Cristo. Redimido por Cristo e tornado nova criatura no Espírito Santo, o homem pode e deve amar as coisas criadas pelo próprio Deus. Com efeito, recebe-as de Deus; olha-as e respeita-as como dons vindos das mãos de Deus” (Gaudium et Spes 37).

O acontecimento primordial da fé cristã é o Mistério Pascal de Jesus Cristo, em sua Morte e Ressurreição. Acreditamos com toda a força de nossa alma que a vida humana encontra sentido justamente em Cristo. Nele todas as esperanças podem se realizar e todos os esforços pelo bem e pela verdade chegam a porto seguro. Quando professamos a fé, temos a certeza de que Jesus Cristo é caminho, Verdade e Vida para todos. Cabe-nos respeitar as pessoas que têm outras convicções religiosas e existenciais, mas não nos é lícito omitir-nos na proclamação da verdade da fé.

Em torno da Ressurreição de Cristo, toda a prática religiosa cristã se organizou, no correr dos séculos. O dia dos dias é o domingo, pois Jesus venceu a morte, o pecado e a dor no primeiro dia da semana. Assim, para os cristãos esta realidade supera os ciclos naturais, ainda que dias, noites, meses e anos sejam vividos por nós junto com as outras pessoas. Vivemos entre dois polos de tensão, “dependurados” na certeza da Ressurreição e na volta do Senhor, no fim dos tempos, quando Deus for tudo em todos. Por isso a Igreja clama com confiança: “Anunciamos, Senhor, a vossa Morte, proclamamos a vossa Ressurreição! Vinde, Senhor Jesus!”

Do Domingo veio a semana cristã, dele se ampliaram os horizontes celebrativos, para que o mistério de Cristo se faça sempre presente e atual. Do dia da Ressurreição veio a Páscoa anual, celebrada com toda solenidade. Os mistérios da vida de Cristo vieram, pouco a pouco, a ser comemorados, sempre com a Santa Missa, presença e renovação do Sacrifício do Calvário, tudo marcado pela abundante proclamação da Palavra de Deus. As pessoas que escolheram seguir Jesus Cristo e o fizeram com radicalidade, que nós chamamos de santos e santas, são recordadas no dia de sua Páscoa pessoal na morte, o que levou a Igreja a celebrar, também com a Santa Missa, seus exemplos e sua intercessão orante pelos que caminham rumo à pátria definitiva. Nosso calendário é chamado “litúrgico” porque se organiza em torno do único mistério, Jesus Cristo, nosso Salvador, que morreu e ressuscitou para nos salvar. A cada ano, retornamos apenas às mesmas celebrações, mas nos encontramos crescidos e mais amadurecidos na fé, para testemunhá-la mais ainda.

Este deve ser o programa de vida do cristão. Entende-se assim porque nossas famílias incutiram em nós o gosto pelas celebrações da Igreja. Batismo, Primeira Comunhão, Crisma, Matrimônio marcam este ritmo, a que se acrescentam as devoções das famílias, ou as festas de padroeiros, Círios, Coroações, Novenas, Procissões. Parecemos agradavelmente teimosos, sem permitir que outras realidades nos engulam de vez! Olho assim para a realidade amazônica, mas quero ver mais longe, por saber que em todos os quadrantes há cristãos assim dispostos a manter viva, não só a fé, mas também uma sadia influência na cultura do tempo em que vivemos.

Entretanto, nosso calendário católico oferece ao mundo uma semana especial, e estamos às suas portas, chamada santa por causa do Senhor que se faz presente com intensidade, suscitando a conversão aos valores do Evangelho. Chegue a todos o convite da Igreja Católica para a grande missão chamada Semana Santa! Esta semana é grande porque a Palavra de Deus é oferecida com abundância. A Semana é Santa e é grande por causa do mistério de Cristo celebrado na Liturgia a partir do Domingo de Ramos, para chegar ao Tríduo Pascal, de Quinta-feira Santa, ao cair da tarde, até Domingo de Páscoa, tendo seu ponto mais alto na Vigília Pascal na Noite Santa. Não dá para sermos espectadores, pois tudo o que acontece é em vista de nossa vida cristã e de nossa salvação. Quando foi publicado o cartaz da Campanha da Fraternidade de 2015, a figura do Papa Francisco realizando o lava-pés na Semana Santa deixou uma forte impressão em todo o país. O rito não tem nada de teatral, nem mesmo de gestos do passado. É extremamente atual e provocante! E a Sexta-feira Santa traz consigo o chamado ao seguimento de Jesus, para conduzir-nos depois à Páscoa, celebrada em seu coração, da Vigília Pascal para o Domingo.

E que dizer dos grandes sermões pronunciados na Semana Santa? Em nossa Belém, o Sermão das Três Horas da Agonia, com as Sete Palavras de Jesus na Cruz, na Sexta-feira Santa, abre ouvidos e corações a cada ano. Pelas ruas, a Via-Sacra, o Sermão do Encontro, o descendimento da Cruz, tudo se torna anúncio, resposta de fé e vida nova para todos. Além das celebrações litúrgicas e dos grandes sermões, os acontecimentos pascais são também encenados com capricho por uma infinidade de grupos. A Paixão de Cristo é o episódio da história da humanidade mais representada em peças teatrais. Quanta gente já encontrou emoção e conversão assistindo nas praças públicas estes espetáculos.

Permaneça em nós, na grande Semana, o apelo de Santo Atanásio, que vale como convite: “É muito belo passar de uma para outra festa, de uma oração para outra, de uma solenidade para outra solenidade. Aproxima-se o tempo que nos traz um novo início e o anúncio da santa Páscoa, na qual o Senhor foi imolado. O Deus que desde o princípio instituiu esta festa para nós, concede-nos a graça de celebrá-la cada ano. Ele que, para nossa salvação, entregou à morte seu próprio Filho, pelo mesmo motivo nos proporciona esta santa solenidade que não tem igual no decurso do ano. Esta festa nos sustenta no meio das aflições. Por ela Deus nos concede a alegria da salvação e nos faz amigos uns dos outros. É este um milagre de sua bondade: congrega nesta festa os que estão longe e reúne na unidade da fé os que, porventura, se encontram fisicamente afastados” (Das Cartas pascais de Santo Atanásio, bispo).

alt

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará
Assessor Eclesiástico da RCCBRASIL

Leia a Pregação Completa de Michelle Moran no ENF 2015

Um dos principais temas trabalhados no Encontro Nacional de Formação da RCC do Brasil, em janeiro de 2015, foi a vivência autêntica do Batismo no Espírito Santo. A presidente do ICCRS (Serviços para a Renovação Carismática Católica Internacional), Michelle Moran, fez a primeira pregação do evento que destacou o Batismo no Espírito como a experiência fundante do Movimento.

michelle05Ao final da pregação, o assessor eclesiástico da RCC do Brasil, Dom Alberto Taveira, partilhou que aquele era o ponto ideal para iniciar o encontro e acrescentou: “Eu não tenho dúvidas de que o Espírito quer dizer alguma coisa a esta porção da Igreja que está aqui reunida”. Em seguida, o bispo deixou um pedido aos carismáticos do país: “essa pregação que ouvimos agora tem que ser multiplicada e espalhada para o Brasil inteiro e todos precisam voltar para suas cidades e seus estados com esse conteúdo”.

Seguindo o pedido de nosso assessor eclesiástico, disponibilizamos para download a transcrição na íntegra da primeira pregação de Michelle Moran no ENF 2015, realizada no dia 22/01.

Baixe aqui a transcrição completa da pregação.

Para adquirir o DVD da pregação, acesse este link ou entre em contato com a Editora RCCBRASIL através do e-mail:ou pelo telefone: (12) 3151-4155.

[Formação] A paciência nos aproxima da perfeição

“Nada te perturbe; nada te espante. Tudo passa. Só Deus não muda; a paciência tudo alcança. Quem a Deus tem nada lhe falta: Só Deus Basta!”, disse Santa Teresa D´Àvila

São Tiago diz que a paciência nos leva à perfeição, a meta de nossa vida cristã. “É preciso  que  a paciência efetue a sua obra a fim de serdes perfeitos e íntegros, sem fraqueza alguma”  (Tg 1,4). Ele chega a dizer que é uma “suma alegria” passar por diversas provações, já que elas produzem em nós a paciência (Tg 1,2). É impressionante esse “suma alegria”. Os santos dizem que há dois tipos de martírio: o da morte pela espada; e o da morte lenta, também por amor a Deus, pela paciência.

velaNão há barreira espiritual que não caia pela força da paciência, que é fruto da fé e do abandono da vida em Deus. Foi pela paciência que Abraão esperou o seu Isaac, 25 anos após a promessa de Deus. Foi pela paciência que Jó venceu as provações e agradou a Deus. Foi pela paciência que a Igreja venceu todos os seus inimigos até hoje: o império  romano, as heresias, as perseguições, o comunismo, o ateísmo, os pecados dos seus filhos, etc. Sem paciência não é possível o crescimento humano e espiritual.

Quando os nossos pecados e fraquezas nos assustam e nos desanimam, é preciso ter paciência conosco e aceitar a nossa dura realidade. Assim os santos chegaram à santidade. Quando é difícil caminhar depressa, então é preciso ter paciência e aceitar caminhar devagar. José e Maria salvaram o Menino das mãos de Herodes, indo passo a passo até o Egito. A pressa é inimiga da perfeição.

Quando o trabalho de cada dia se torna monótono e cansativo, é preciso fazê-lo com paciência, oferecendo cada gota de suor a Deus. Quando a oração se torna difícil, é preciso mantê-la com paciência, deixando que ela mesma aumente em nós essa virtude. Quando o obstáculo é intransponível às nossas possibilidades, é preciso saber esperar as circunstâncias mudarem, a graça de Deus agir, e tudo acontecer. Santa Teresa D’Ávila, doutora da Igreja, nos ensina: “Nada te perturbe; nada te espante. Tudo passa. Só Deus não muda; a paciência tudo alcança. Quem a Deus tem nada lhe falta: Só Deus Basta !”

Quando o sofrimento se faz presente, é preciso não se desesperar, e fazer como os passarinhos que, quietinhos no ninho, esperam a tempestade passar… O remédio é a paciência!

“O sofrimento aceito com paciência é o mais rápido caminho da santificação”, nos garante São Francisco de Sales, com sua autoridade de doutor da Igreja. Foi o santo da paciência; nada lhe tirava o sorriso dos lábios.

Maria, nossa Mãe, é a mulher da paciência. Sempre soube esperar o desígnio de Deus se cumprir, sem se afobar, sem gritar, sem reclamar… A paciência é amiga do silêncio e da fé.

“Meu filho, se entrares para o serviço de Deus (…) prepara a tua alma para a provação; humilha teu coração, espera com paciência… sofre as demoras de Deus; dedica-te a Deus, espera com paciência” (Eclo 2,1-3).

Deus usa da natureza para nos fazer pacientes, já que esta lição é fundamental para nossa salvação. Para que todos pudessem sem se cansar aprender essa lição, Deus a colocou como a base da criação. Você semeia o grão de milho e tem de esperar pacientemente seis meses para colher a espiga. Primeiro o grão germina; gera a plantinha que cresce e se fortalece aos poucos, sem cessar e sem correr, silenciosamente. Se adapta ao solo, ao clima, ao tempo… Depois vêm as flores e por fim o fruto.

Toda a natureza nos dá essa lição: crescer devagar, sem parar, com paciência e em silêncio. Nós fomos uma única célula no ventre caloroso da mãe, ela se dividiu em duas… em milhões, aos poucos, lentamente. E assim Deus nos teceu no seio materno, como a mulher vai tricotando uma blusa, ponto por ponto, sem parar, sem correr. Que lição de vida!

É Deus nos falando pelo espelho da natureza. Feliz de quem sabe contemplá-la e aprender as suas belas lições. Tudo que a gente fizer sem paciência e sem contar com a natureza, ela mesma se incumbe de destruir. Deus atrelou nossa vida na paciência que a natureza nos ensina sem cessar.

Prof. Felipe Aquino

[Formação] Filhos: uma bênção!

Certa vez o Papa Paulo VI disse em Roma, a um grupo de casais:

“A dualidade de sexos foi querida por Deus, para que o homem e a mulher, juntos, fossem a imagem de Deus, e, como Ele, nascente da vida”.

Isto é, doando a vida, o casal humano se torna semelhante a Deus Criador. Pode haver missão mais nobre e digna do que esta na face da terra?

Alguém disse certa vez, com muita razão, que “a primeira vitória de um homem foi ter nascido”.

Nada é tão grande e valioso neste mundo como o homem. Ensina a Igreja que “ele é a única criatura que Deus quis por si mesma”(GS,24). Por isso o Papa João Paulo II afirmou certa vez:

“A Igreja quer manter-se livre diante dos sistemas opostos para optar só pelo homem”. “O homem é a via da Igreja”.

O Catecismo da Igreja  ensina que o amor do casal é criador, por vontade de Deus:

“A fecundidade é um dom, um fim do matrimônio, porque o amor conjugal tende a ser fecundo. O filho não vem de fora acrescentar-se ao amor mútuo dos esposos; surge no próprio âmago dessa doação mútua, da qual é fruto e realização. A Igreja ‘está ao lado da vida’, e
ensina que qualquer ato matrimonial deve estar aberto à transmissão da vida” (CIC, 2366 ).

E o Catecismo ensina que o casal é chamado a participar do poder criador de Deus e de sua paternidade:

“Chamados a dar a vida, os esposos participam do poder criador e da paternidade de Deus. Os cônjuges sabem que, no ofício de transmitir a vida e de educar – o qual deve ser considerado como missão própria deles – são cooperadores do amor de Deus criador” (CIC, 2367).

Ao falar do “dom do filho”, o Catecismo ainda diz:

“A Sagrada Escritura e a prática tradicional da Igreja vêem nas famílias numerosas um sinal da bênção divina e da generosidade dos pais” (CIC, 2373; GS, 50,2).

E conclui: “os filhos são o dom mais excelente do Matrimônio e constituem um benefício máximo para os próprios pais” (CIC, 2378).

Será que acreditamos de fato nessas palavras da Igreja? Ou será que “escapamos pela tangente”, dando a “nossa” desculpa? Ah! o meu caso é diferente!

Lamentavelmente estabeleceu-se entre nós, também católicos, uma cultura “antinatalista”.  Por incrível que pareça “as preocupações da vida” (Lc 12,22; Mt 6,19), tão condenadas por Jesus, sufocaram o valor imenso da vida humana, levando as gerações à triste mentalidade de “quanto menos filhos melhor”. À luz do cristianismo, é uma triste mentalidade, pois a Igreja sempre ensinou o valor incomensurável da vida.

O salmo 126 diz com todas as letras:

“Vede, os filhos são um dom de Deus: é uma recompensa o fruto das entranhas”.  “Feliz o homem que assim encheu sua aljava…” (Sl 126, 3-5).

Acreditamos ainda nessas palavras?

O amor é essencialmente dom. São Tomás de Aquino dizia que “o bem é difusivo” (Suma Teológica, I, q. 5, a.4, ad 1).  Em outras palavras: ou o amor se doa, ou então morre. E, para o casal, a maior doação é a da vida do filho.

Santo Ireneu (? 202) resumia em poucas palavras toda a grandeza do homem : “O homem vivo é a glória de Deus” (Contra as heresias IV, 20,7).Isto quer dizer que com a criação do homem e da mulher à sua imagem e semelhança, “Deus coroa e leva à perfeição a obra das suas mãos” (Familiaris Consórtio, 28).

Assim, Ele chamou-nos a participar do seu poder de Criador e de Pai:

“Deus abençoou-os e disse-lhes: “crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra” (Gen 1,28).

Disse ainda o Papa João Paulo II :

“A tarefa  fundamental da família é o serviço à vida. É realizar, através da história, a bênção originária do Criador, transmitindo a imagem divina pela  geração de homem a homem.  Fecundidade é o fruto e o sinal do amor conjugal, o testemunho vivo da plena doação recíproca dos esposos” (FC, 28).

Todos esses ensinamentos nos levam ao que a Igreja  afirma constantemente:

“O amor conjugal deve ser plenamente humano, exclusivo e aberto à nova vida” (GS,50; HV,11; FC,29).

A situação social e cultural dos nossos tempos, dificulta a compreensão dessa verdade. Vale a pena reler o que disse o Papa João Paulo II sobre isso:

“Alguns perguntam-se se viver é bom ou se não teria sido melhor nem sequer ter nascido. Duvidam, portanto, da liceidade de chamar outros à vida, que talvez amaldiçoarão a sua existência num mundo cruel, cujos temores nem sequer são previsíveis. Outros pensam que são os únicos destinatários da técnica e excluem os demais, impondo-lhes meios contraceptivos ou técnicas ainda piores.

Nasceu assim uma mentalidade contra a vida (anti-life mentality), como emerge de muitas questões atuais: pense-se, por exemplo, num certo pânico derivado dos estudos dos ecólogos e dos futurólogos sobre a demografia, que exageram, às vezes, o perigo do incremento demográfico para a qualidade da vida.

Mas a Igreja crê firmemente que a vida humana, mesmo se débil e com sofrimento, é sempre um esplêndido dom do Deus da bondade. Contra o pessimismo e o egoísmo que obscurecem o mundo, a Igreja está do lado da vida” (Familiaris Consórtio,30).

Muitos têm medo de não educar bem os filhos. Pois eu lhes digo que, com Deus, é possível educá-los; basta que o casal se ame, crie um lar saudável, e vivam para os filhos, com todas as suas forças e com toda dedicação. O resto, Deus e eles farão. Faça do seu filho um Homem… isto basta.

Há hoje uma mentira muito difundida – infelizmente aceita também por muitos  católicos desinformados – de que a limitação da natalidade é o remédio necessário e “indispensável” para sanar todos os males da humanidade.

Não há civilização que possa nse sustentar sobre uma falsa ética que destrói o ser humano, ou que impede o “seu existir”. É ilógico, desumano e contra a Lei de Deus, que, para salvar a humanidade seja necessário sacrificá-la em parte.

O renomado historiador francês, professor da Sorbonne, católico, Pierre Chaunu, na entrevista que deu à revista VEJA, de 11.07.84, sob o título A Caminho do Desastre, com sua autoridade de Catedrático, com mais de 50 livros editados, afirma, entre tantos outros alertas contra o controle da natalidade, que “estamos no limiar de um mundo de velhos” e que a humanidade corre o risco de ver a “implosão da espécie humana”. (em 1984) que:

“Há quinze anos entramos num processo catastrófico. As taxas de natalidade caíram tanto nos países industrializados que já não somos capazes sequer de repor a geração atual “.

No Relatório intitulado Estado da População Mundial, em 1987, da ONU, ela  e afirmou:

“Depois da revolução verde, da biotecnologia, não se duvida mais que haja condições para acabar com a fome no mundo” (Folha de São Paulo, 15/06/87).

O mesmo Relatório da ONU ainda afirmava:

“Há 453 milhões de toneladas de trigo, arroz e grãos estocados em todo o mundo, e os agricultores dos Estados Unidos e da Europa Ocidental são pagos para não produzir” .

A Folha de São Paulo, em matéria intitulada Terra não terá explosão populacional, diz a ONU (05/02/98, pag.1-14), da jornalista Cláudia Pires, de Nova York, afirma:

“Depois de anos  de previsões sobre uma possível explosão populacional na Terra, demógrafos e outros especialistas no assunto acabaram concluindo que o risco de um planeta super-habitado está cada vem mais distante. Atualmente existem 5,7 bilhões de pessoas no planeta. De acordo com os especialistas, se os índices populacionais forem mantidos… o total populacional na metade do próximo século deve estar beirando os 9,4 bilhões. A cifra é a metade da prevista no início deste século.”

maos_pai_e_filhoÉ urgente resgatar entre os casais cristãos o valor do filho e da prole como uma “bênção de Deus”,  e que só se pode rejeitar por razões sérias; jamais por comodismo, medo ou egoísmo.  Os casais cristãos estão a dever ao mundo uma resposta sobre esta questão… afinal, o maior de todos os valores é a vida.  E não há trabalho mais digno e sublime do que gerar e bem educar seres humanos, os filhos de Deus.

O que o nosso mundo hoje mais precisa é de homens e mulheres com vocação autêntica para pais e mães. Chega de crianças “órfãs” de pais e mães vivos, como o Papa denunciou quando esteve aqui no Brasil.  Isto ocorre porque esses últimos se preocupam mais consigo mesmos do que com os filhos.

Jamais a mulher poderá se realizar mais em outra vocação do que na maternidade. É aí que ela coopera de maneira mais extraordinária com Deus na obra da criação e, consequentemente, é aí que ela encontra a sua verdadeira realização. Afinal, São Paulo afirma a Timóteo que :

“A mulher será salva pela maternidade” (1 Tm 2,15).

Certa vez o Cardeal Raul Henriques, do Chile, disse:

“Se quando minha mãe teve o 18º filho, tivesse dito basta, vocês não teriam hoje o seu Cardeal”.

Isto porque ele nasceu depois desses dezoito. Tudo é uma questão de amor e de fé.

A Igreja, no Concílio Vaticano II ensinou que:

“Não pode haver verdadeira contradição entre as leis divinas sobre a transmissão da vida e o cultivo do autêntico amor conjugal”.

“Aos filhos da Igreja, apoiados nesses princípios, não é lícito adotar na regulação da prole os meios que o Magistério reprova quando explica a lei divina” (GS, 51).

É preciso dizer aqui que a lei de Deus não é pesada e nem impossível de ser cumprida.  Jesus disse que o seu “jugo (doutrina) é suave e seu peso é leve” (Mt 11,30).

“O mandamento que hoje te dou não está acima de tuas forças, nem de fora de teu alcance (…).  Mas esta palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração: e tu a podes cumprir” (Dt 30, 11-14).

Vitor Hugo disse certa vez que “um lar sem filhos é como uma colmeia sem abelhas”; acaba ficando sem a doçura do mel.

Professor Felipe Aquino

[Artigo] Carnaval e permissividade

Em nosso círculo religioso, sempre costumamos fazer (e ouvir) críticas concernentes ao período de carnaval e suas festividades. Não faltam boas formações sobre a origem do carnaval: que esta festa é, em essência, religiosa e que se caracterizava pelo período que antecedia a um jejum, daí o termo carnaval, sem carne e, com o passar do tempo, a festa foi se tornando cada mais secularizada e distante do sentido religioso.

Porém, a despeito de todas as definições das origens desta palavra e desta festa – que são as mais variadas (algumas, por exemplo, encontram suas raízes entre os gregos antigos), – gostaria de contribuir com uma reflexão atualizada, ao mesmo tempo muito singela sobre este momento.

É curioso o frisson gerado com a proximidade deste feriado prolongado, os desfiles, as festas e os bailes realizados. Todos se propondo a oportunizar alegria aos seus participantes. Ainda mais em nosso país, com um povo tão sofrido, o carnaval aparece como o grande analgésico (para não chamar torpor alienante) das dores do mundo[1].

Caberia aqui uma grande discussão sobre o que seria, de fato, essa alegria tão buscada e “vivida” no carnaval, mas identificamos uma voz uníssona entre os que participam das festividades: diz-se que o carnaval é uma oportunidade para ser e fazer o que não se faria normalmente em outras épocas do ano. Sente-se livre e à vontade para ser o que não se é, para fazer o que não se faria e, com isso, tem-se a ideia de liberdade. Uma pseudo-liberdade.

Por exemplo, um homem pode se vestir de mulher sem ser identificado como travesti, um casal pode ter outros relacionamentos sem se considerar uma traição, pode-se beber e usar drogas sem receber o nome de viciado. Ou seja, vale tudo e, o que é feito no carnaval, fica no carnaval. O vício é passageiro, as relações são passageiras, os excessos são passageiros. Me pergunto: e a alegria? Tão buscada freneticamente, também ela é passageira? Diria: SIM! Muito passageira e efêmera.

Desfile de Escolas de Samba no Rio de Janeiro - Fonte: Google
Carro alegórico em Desfile de Escolas de Samba no Rio de Janeiro – Fonte: Google

Confronto esta permissividade extrema ao que nos ensina São Paulo, quando diz que “Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém” (I Cor 6, 12). Será que, de fato, as pessoas se permitem, no carnaval, ser o que não são ou, na realidade, assumem o que são sem serem rechaçadas por isso?

Não tem como não comparar as festas de carnaval, com os retiros de carnaval. Diria que tanto em uma quanto em outra esfera cabe uma reflexão sobre a identidade do ser humano. Enquanto nas festas de carnaval, se usa fantasias, máscaras, dá-se livre vazão às paixões e impulsos, onde o indivíduo pode ser o que quiser, ou mesmo, esquecer um pouco de quem se é, nos retiros que carnaval (que cada vez mais se espalham e fortalecem no país), não receio em afirmar que, os que participam terminam por descobrir-se e lembrar de quem são de verdade: filhos e filhas amados de Deus.

Se, por um lado, o homem esquece-se de si, por outro, ele tem um encontro consigo mesmo. E encontra a si mesmo porque se encontra com Deus. Trago, aqui, as palavras do Papa: “somente Deus pode revelar ao homem o próprio homem”.

Se para alguns, o carnaval é uma oportunidade de alienação e esquecimento da realidade, de supressão dos sofrimentos por meio de uma alegria anestesiante, podemos dizer que os encontros (ou retiros) de carnaval surgem, exatamente, como o oposto: encontro com a própria realidade, oferta dos próprios males, configurando-os ao sofrimento de Cristo e, o mais importante: lembra-se de quem se é e “torna-se aquilo que se é”[2].

1900075_628955527158356_40382761_nSim, quando escolhemos a melhor parte, aquela que não nos será tirada[3], em vez nos ausentarmos da realidade em busca de uma alegria fugaz, esquecimento momentâneo de si, vivenciando um alter ego deturpado, podemos, em Deus, nos deixar preencher por seu amor. Assim, as máscaras caem, as fantasias não são mais necessárias e a alegria, aquela que não passa, enfim, é encontrada, pois, finalmente, fizemos a experiência pessoal de que somos filhos amados de Deus, nos quais Ele põe toda sua afeição[4].

 

 

Francisco Elvis Rodrigues Oliveira
Coord. Estadual Min. Pregação – RCC/CE

[1] Parafraseando o filósofo Arthur Schopenhauer.

[2] Alusão ao Papa João Paulo II, que, na Famialiris Consortio, escreveu: “Família, torna-te aquilo que és”.

[3] Cf. Lc 10, 38-42

[4] Cf. Mt 3, 17